domingo, 13 de novembro de 2011

CARTA DO CANADÁ  Cheques dos emigrantes gregos para o FMI

"Por alguma razão se diz que a pátria da burguesia é a carteira, já que até com as crises dos países mais aumenta património e contas bancárias. Se o Conselho Mundial Helénico conseguir prestar este serviço ao seu país milenar, berço da democracia e da civiização ocidental, será fácil antever a tremenda força com que ficará junto do seu povo e a mudança que se operará na cena política."
A diáspora grega

Fernnanda Leitão *

O ramo canadiano do Conselho Mundial Helénico está a desdobrar-se em intensa actividade para participar da recolha de fundos em todas as comunidades gregas espalhadas pelo mundo, com o objectivo de ser paga a dívida externa do país e, assim, o salvar da sujeição a que parece condenado pelo clube, europeu e dito democrático, a que pertence. Convém adiantar sem perda de tempo que, segundo decisão do Conselho Mundial, os pagamentos serão feitos directamente ao FMI, BCE e UE. Portanto, o dinheiro não passará pelas instâncias oficiais gregas, o que diz de forma eloquente do cepticismo dos seus emigrantes. Entendem, e bem, que a pátria tem de estar acima das engrenagens partidárias. E com esta tomada de posição dão uma bofetada de luva branca nos milionários gregos que, como acontece com milionários doutros países, apenas se preocupam em pôr o seu dinheiro nos paraísos fiscais, sem o menor respeito pelo seu povo.

Por alguma razão se diz que a pátria da burguesia é a carteira, já que até com as crises dos países mais aumenta património e contas bancárias. Se o Conselho Mundial Helénico conseguir prestar este serviço ao seu país milenar, berço da democracia e da civiização ocidental, será fácil antever a tremenda força com que ficará junto do seu povo e a mudança que se operará na cena política.

A comunidade grega no Canadá não é grande, não chega aos 200 mil residentes. Foi começada por um médico, no século XIX, que se estabeleceu na província de Manitoba. Hoje é uma comunidade importante do ponto de vista profissional, financeiro e social, como podemos observar directamente no dia a dia ou lendo atentamente as listas de apoiantes de manifestações culturais, que vão da ópera à gastronomia. Tem as suas igrejas ortodoxas, as suas representações diplomáticas, as suas escolas de língua grega com professores habilitados e apoiados, as suas empresas e bancos. Em Toronto, há uma zona a leste da cidade em que a comunidade grega vive em força no meio de uma impressionante paleta de restaurantes, bares,cafés e outros comércios, que a frequência diária de pessoas de todas as origens, atraídas pela gastronomia e aquele jeito peculiar de estar na vida dos helénicos, tornam intensamente movimentada. Danforth se chama essa zona onde se apinham multidões de todas as raças e credos para verem a parada do Dia Nacional da Grécia e o fim de semana em que os carros ali não passam porque as ruas estão cheias de esplanadas, de barracas de comes e bebes, de artesanato, flores e frutos.

Aprecio vivamente o brio e o orgulho destes gregos expatriados.Devo-lhes um dos dias mais inesquecíveis da minha vida. Há muitos anos, uma das mais prestigiadas salas de espectáculos de Toronto levou à cena a peça teatral ZORBA, tendo como actor principal Anthony Quinn, ele mesmo, ao vivo e a cores, que contracenava, imaginem, com a mesma actriz que no filme interpretava a Bubulina, ao tempo casada com um professor da Universidade de Toronto. A sala vinha abaixo de aplausos. A peça esteve em cena dez dias, com lotações esgotadas e com o átrio, corredores, café e restaurante transformados em espaços gregos por uma comunidade que não deixou os seus créditos por mãos alheias. Lindo de morrer.

Oxalá os emigrantes gregos ganhem esta batalha. Bem o merecem depois das vilanias que sofreram às mãos dos que invadiram a sua terra e lhes levaram um grande acervo de obras de arte que, naturalmente, se esqueceram de devolver e exibem despudoradamente nos seus museus.